quarta-feira, dezembro 26, 2012

Papai Noel precisa de check-up cardíaco antes do Natal?




Vivemos hoje no estranho mundo do overdiagnosis, levando os nossos pacientes ao pesadelo de serem raptados da sua condição estável, para a criação de um problema (falso em sua magnitude) que será resolvido por uma solução (falsa em seu benefício).




Para ler o texto completo de Luis Cláudio Correia, clique aqui.

domingo, dezembro 23, 2012

Será que você pode confiar no seu cardiologista?

Divulgo texto de Ricardo Guerra.

Apesar de longo, vale muito a pena ler. Não concordo com tudo, como com a forma como estimula empoderamento de pacientes.

Aproveito para deixar um FELIZ NATAL e 2013!

quinta-feira, dezembro 06, 2012

Conflitos de interesses e cirurgias desnecessárias

Dois médicos de Uberlândia (MG) estão sendo acusados de implantar desnecessariamente marcapassos em pacientes da rede pública em troca de propina.

Segundo a denúncia que o Ministério Público Federal fez à Justiça, os médicos envolvidos recebiam de 5% a 10% do preço do produto. Em alguns casos, houve propina de mais de R$ 48 mil.

Embora não seja a primeira vez que denúncias desse tipo venham a público, elas representam apenas a pontinha do iceberg. A vasta maioria dos casos fica entre as quatro paredes dos centros cirúrgicos ou dos consultórios médicos.

Nas rodas médicas, no entanto, a informação de que cirurgiões recebem gordas comissões da indústria de órteses e próteses por indicarem seus produtos é uma velha conhecida.

O custo do material usado em uma cirurgia de coluna, por exemplo, chega a R$ 200 mil. E o bônus pago a médicos pode variar de 10% a 20% do valor, segundo fontes das áreas de ortopedia e neurocirurgia.

CUSTOS

Nos EUA, as cirurgias de coluna, principalmente as de hérnia de disco, estão na mira do governo. Os custos com esse procedimento passaram de US$ 345 milhões em 1997 para US$ 2,24 bilhões em 2008.

Como pano de fundo, há os conflitos de interesses entre cirurgiões e a indústria de próteses (pinos, placas e outros materiais), que já estão sendo investigados pelo Congresso americano. A suspeita é que os médicos estariam indicando cirurgias desnecessárias em troca de comissões.

Um relatório divulgado em 2011 pelo "Wall Street Journal" mostrou que cinco cirurgiões do Norton Hospital, no Kentucky, receberam, cada um, US$ 1,3 milhão da Medtronic, líder em dispositivos para cirurgia na coluna.

A empresa afirmou que o dinheiro se refere a royalties, porque os médicos ajudaram no desenvolvimento dos dispositivos. O curioso é que esses médicos estão entre os que mais indicam as cirurgias no sistema público de saúde americano, o Medicare.

Só os parafusos usados para perfurar a coluna custam US$ 2.000 cada um. Mas, segundo o Medicare, o custo de fabricação não passa de US$ 100.

Em seu livro "The Treatment Trap", Rosemary Gibson vai direto na jugular: "Muitas cirurgias estão sendo feitas desnecessariamente ou em situações em que não há evidência de que vão funcionar."

TRANSPARÊNCIA

No Brasil, a situação é parecida. Os próprios conselhos de medicina reconhecem o problema, mas alegam que ninguém denuncia. E sem denúncia, não há investigação.

Um passo importante seria o país aprovar, a exemplo do que fez os EUA, uma lei que obrigue as indústrias de medicamentos, equipamentos, órteses e próteses a divulgar a lista de médicos que prestam serviços a elas (por consultorias, palestras, pesquisas, etc) e o valor recebido. Nos últimos anos, 12 empresas já fazem isso por força de decisão judicial.

De posse dessas informações, o ProPublica, uma organização americana de jornalismo investigativo sem fins lucrativos, montou um banco de dados. Qualquer cidadão americano pode pesquisar, pela internet, se o seu médico recebe dinheiro da indústria. Basta colocar o nome dele e o Estado onde o profissional atua.

Conflito de interesse é um assunto antigo na história da medicina. A primeira citação, de Aristóteles, data de 2.500 anos atrás. Com o avanço das novas tecnologias em saúde, eles tendem a aumentar. Os médicos se defendem de insinuações desse tipo, dizendo que jamais receitariam um remédio pior só porque recebeu um brinde, uma viagem ou um jantar do laboratório que a fabrica.

Mas hoje existem indiscutíveis estudos mostrando o contrário. Uma metanálise publicada em 2000 no "Jama", por exemplo, concluiu que a pagar uma viagem para um profissional aumenta entre 4,5 e 10 vezes a chance de ele receitar as drogas produzidas pela patrocinadora. A eficácia desse marketing é tamanha que as farmacêuticas dedicam a ele até 30% de seus orçamentos.

E nós, pacientes, o que temos a ver com isso? Tudo. A começar pelos riscos que sofremos em cirurgias e procedimentos médicos desnecessários. No mínimo, deveríamos criar o hábito de perguntar ao médico se ele tem algum conflito de interesse na indicação de um determinado remédio ou procedimento. Seria ingênuo imaginar que isso, por si só, iria coibir propinas e afins, mas pelo menos criaria uma relação de mais transparência entre o médico e o paciente. O efeito inusitado -e que as más línguas juram que já anda acontecendo-- será o paciente começar a exigir a sua parte também...

Fonte: Cláudia Collucci, repórter especial da Folha, especializada na área da saúde. Mestre em história da ciência pela PUC-SP e pós graduanda em gestão de saúde pela FGV-SP, foi bolsista da University of Michigan (2010) e da Georgetown University (2011), onde pesquisou sobre conflitos de interesse e o impacto das novas tecnologias em saúde.
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