terça-feira, maio 29, 2012

Médicos, drogas e Cachoeira

Por Renato Ferraz - Correio Braziliense
 
É inevitável: você chega a um consultório médico e, sem exceção de dia ou período, encontra aqueles representantes de laboratórios farmacêuticos, também chamados de promotores de medicamentos. Eles são inconfundíveis pela vestimenta, pela maleta clássica, pelo carinho artificial dedicado às secretárias. O que fazem, afinal, quando invadem nossos horários e se trancam com os doutores e doutoras? Demonstram que determinada substância cura de tristeza a frieira? Dão amostra grátis? Não, desta vez não sei a resposta, caros leitores. Uso essa figura para tentar entender, e peço a ajuda de vocês para tanto, por que essa relação médico-paciente-laboratório-Estado é tão confusa, quase sempre prejudicial ao paciente.
 
Eu uso, por exemplo, um remédio relativamente simples, que funciona como um suplemento para ajudar na digestão. Volta e meia, ele e seu genérico ou similar somem das farmácias, das distribuidoras. Simultaneamente, quase sempre. Quando um volta à tona, vem com embalagem diferente e, estranhamente, com preço majorado. Recentemente, tive que usar outra droga dessas (um novo produto e, portanto, sem a concorrência genérica, por causa da patente). Reclamo do preço e o balconista, gentil, me diz: Liga no laboratório que ele te dá desconto. É, deu certo: fiz um cadastro e, ao comprar uma caixa, consegui sem esforço um abatimento de 70%. Depois, pensei: qual empresa reduz tanto o preço sem ter prejuízo; qual é a razão oculta dessa caridade? É só para fidelizar o senhor, diz o rapaz da drogaria. Fidelizar no consumo de drogas? Ah, meus Deus! Isso é legal?
 
Aí, descubro que ainda há médico prescrevendo determinada marca, com o nome de fantasia e não simplesmente o princípio ativo do medicamento, como manda a regra. Depois, lembro-me que é comum laboratórios financiarem viagens de médicos. Ou de associações de classe. Mas isso é justo, legal, imoral, engorda? Em seguida, vou ler a bula e não consigo: o corpo da letra exige a necessidade de uma lupa e o linguajar é estupidamente técnico. Penso na Anvisa, na ANS, no Estado em si que deveriam nos proteger. Fico com raiva, tento esquecer o assunto, pego um exemplar do Correio para ler (ou reler) e vejo que até Carlinhos Cachoeira é dono de laboratório.
 
Bem, desisto do remédio e vou tomar um uísque: se pensar mais nesse troço acabarei tendo que ingerir um antidepressivo.
 
Fonte: Correio Braziliense

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